domingo, 5 de dezembro de 2010

Descarte certo


Com atitude e consciência, podemos combater o excesso de lixo tóxico que vem provocando danos à saúde do planeta.



Sabe aquela geladeira antiga que você não usa mais? Ou mesmo os aparelhos eletrônicos deixados de lado? Ah, sem contar as pilhas e baterias aposentadas e os remédios vencidos? Se não bastasse a dúvida sobre o que fazer com essas coisas todas, ainda temos de tratá-las com cuidados especiais. “Por conterem substâncias tóxicas, quando descartados de forma incorreta no meio ambiente, esses e outros itens, como óleo de cozinha e lâmpadas, contaminam o solo e a água”, explica a doutora em engenharia química Carolina Afonso Pinto, formada pela Universidade de São Paulo (USP). “Para quem não recebe água tratada, a opção é captar de rios ou do lençol freático através de poços artesanais. É aí que mora o perigo”, alerta. Como a maioria desses objetos ainda é eliminada junto com o lixo comum nos chamados “lixões”, o impacto é certeiro. “Não há nenhum controle sobre eles, o que amplia a proliferação de gases tóxicos e líquidos poluentes, como o chorume. O resultado são as doenças, além de solo e ar poluídos”, declara Jorge Tenório, professor titular de engenharia de materiais da Universidade de São Paulo (USP). Como isso pode se agravar e nos trazer problemas futuros? Basta olhar ao redor e ver a multidão de pessoas consumindo sem parar. E o pior: sem saber o que fazer com o que possuem. “Produzimos três vezes mais lixo eletrônico do que lixo comum, que já é insustentável ao planeta”, fala Heloisa Mello, diretora de operações do Instituto Akatu, em São Paulo. “Consumimos 30% além do que o mundo pode renovar, por isso entramos em uma espécie de cheque especial para sobreviver”, conta Heloisa. Exagero? Não quando observamos a quantidade de novidades lançadas a cada dia. “O consumo hoje é descartável. Os produtos têm pouca durabilidade e essa troca é intensa e rápida”, completa. O alerta nos convida a uma reflexão sobre o futuro de nossas ações daqui para frente. “Não podemos deixar para quando sentirmos na pele o problema. É melhor prevenir do que ter de tomar medidas mais duras depois”, reforça Dinah Monteiro Lessa, diretora do Instituto Recicle, em São Paulo. CONSUMO CONSCIENTE Pare e pense em quantos objetos você compra, usa e joga for a diariamente. Saberia dizer quais eram realmente necessários? Você usou-os no mesmo instante ou só depois de semanas ou meses? Essas perguntas podem até parecer simples, mas ajudam muito na hora da decisão. “Devemos pensar no descarte assim que escolhemos o produto”, avisa Heloisa Mello. “O ideal é priorizar os que tenham durabilidade e uso imediato. Além disso, dê preferência às empresas que os fabricam com sustentabilidade”, reforça Dinah Monteiro Lessa. Por exemplo, observar se as embalagens são feitas de materiais recicláveis e se a empresa as recolhe quando perdem a utilidade já ajuda nessa missão. “As pequenas atitudes individuais resultarão em grande diferença. Se cada um fizer a sua parte, a consequência será gigantesca”, ressalta Heloisa Mello. O esforço de todos colabora e, com a nova lei de resíduos sólidos, o caminho começa a ser traçado de forma mais rápida. Agora, os fabricantes de eletrônicos, eletrodomésticos,lâmpadas, óleos lubrificantes, pilhas e baterias deverão recolher seus produtos após o término de sua vida útil. Nas páginas a seguir,você verá como descartar de forma adequada todos os tipos de lixo tóxico, incluindo os remédios. Veja aqui algumas indicações e consulte no site da revista Bons Fluidos uma lista mais ampla dos locais que recebem esses materiais. CADA UM NO SEU LUGAR PILHAS E BATERIAS Se fizer um passeio rápido pela sua casa e visitar quartos, cozinha, sala e banheiro, talvez você não perceba que todos esses ambientes têm objetos que trazem algo em comum: pilhas ou baterias. Independentemente do tipo ou do tamanho, o estrago que esses itens causam à natureza e ao homem vem dos metais cádmio, chumbo e mercúrio. Quando entram em contato com o solo, a contaminação é certa e se estende às plantas e animais que vivem nesses locais. O mesmo raciocínio vale para nós, uma vez que, eventualmente, podemos ingerir alimentos contaminados em algum momento da cadeia produtiva. Onde estão: controles remotos, filmadoras, máquinas fotográficas, telefones fixos e sem fio, celulares, mp3s, barbeadores, brinquedos, lanternas, rádios, notebooks, calculadoras, aparelhos de DVD, relógios e outros produtos que usem pilhas ou baterias comuns e recarregáveis. Como descartar: envolva a pilha ou a bateria em um saco plástico, separando-o do lixo comum, e deposite em postos de coleta específicos.
Se preferir, devolva-os à loja em que você comprou. As empresas de celulares Tim, Vivo e Motorola também recebem esses materiais. Procure não adquirir pilhas e baterias de origem desconhecida ou piratas. ÓLEO DE COZINHA Ao ser jogado pelo ralo da pia ou mesmo no vaso sanitário, o óleo de cozinha pode se acumular na rede de esgoto e, se cair em rios e córregos, impedir a entrada de oxigênio e luz na água, ocasionando a morte de peixes e plantas. Já o lubrificante é altamente tóxico ao meio ambiente. Como descartar: a primeira coisa a fazer é separar uma garrafa plástica para armazenar o óleo utilizado. Quando estiver cheia, leve-a a postos de coleta autorizados. A rede de lojas de produtos naturais Mundo Verde possui pontos de coleta no Rio de Janeiro, em São Paulo e Alagoas. O grupo Pão de Açúcar recolhe óleo de cozinha nas chamadas Estações de Coleta de Óleo, que podem ser encontradas em alguns supermercados, como Pão de Açúcar, Extra e Compre Bem. Em São Paulo, qualquer agência da SABESP recebe o refugo. LIXO ELETRÔNICO (ELETRÔNICOS E ELETRODOMÉSTICOS) Talvez você esteja pensando em comprar um micro-ondas novo, um fogão ou mesmo em trocar o celular e aquelas televisões antigas (enormes!) por modelos mais modernos, que atiçam muito o nosso desejo de consumo. Porém, livrar-se dessas bugigangas eletrônicas requer um pouco de atenção, já que possuem componentes como cádmio, chumbo e níquel. Esses metais pesados são altamente tóxicos e podem contaminar o solo e o lençol freático se forem jogados no lixo comum. Além desses, outros materiais, como plástico, vidro e borracha, que também compõem esses aparelhos, demoram muito a se decompor no meio ambiente. Nas geladeiras mais antigas, há ainda outro perigo: o CFC, um gás tóxico usado no processo de refrigeração que ataca e destrói a camada de ozônio. O que são: computadores, teclados, mouses, celulares, televisores, micro-ondas, fogões, geladeiras, ipods, mp3s, ares condicionados, chips, notebooks, máquinas fotográficas, filmadoras e geladeiras. Como descartar: nunca misture esses aparelhos com o lixo comum ou doméstico. Para descartá-los, entre em contato com o fabricante e se informe se ele recebe o produto de volta, como é o caso da Tim, da Vivo e da Motorola, que fazem isso em todas as suas lojas. Também oferecem esse serviço empresas de informática como Canon, HP, Dell, Philips e Itautec. O grupo Whirlpool, responsável pela Brastemp e Consul, possui coleta dos eletrodomésticos exclusivamente na cidade de Joinville (SC). REMÉDIOS Ao abrirmos a caixa de remédios que guardamos com tanto cuidado, não é difícil encontrarmos alguns com a validade vencida. Essa cena se repete com frequência, já que raramente consumimos o conteúdo todo. Após passarem do prazo, geralmente se juntam ao lixo comum. Perigo: esse tipo de produto contém substâncias químicas que podem contaminar o solo e as águas quando jogado nos aterros sanitários. Como descartar: o descarte dos medicamentos vencidos deve ser feito, de preferência, com a própria embalagem. Em São Paulo, podem ser levados às Unidades Básicas de Saúde (UBS); em outras regiões, você deve procurar os Centros de Atendimento Público de Saúde, que deverão dar orientações sobre a destinação final dos remédios. LÂMPADAS Responsáveis por iluminar a escuridão da noite, esses delicados objetos contêm uma perigosa substância: o mercúrio. Armazenado dentro da lâmpada, em estado de vapor (mesmo que em pequena quantidade), o mercúrio é um metal tóxico. Quando a lâmpada queima, esse metal se dispersa, impregnando os materiais sólidos e ficando protegido apenas pelo vidro, que passa a ter resíduos tóxicos capazes de contaminar o solo e a água. Quais são: lâmpadas fluorescentes (geralmente usadas em escritórios), compactas (econômicas) e mistas. Como descartar: procure colocar as lâmpadas em caixas fechadas e separadas do lixo comum. Informe-se na prefeitura de seu município se há pontos de coleta do material. No Rio de Janeiro, por exemplo, existe uma lei municipal que obriga os estabelecimentos que comercializam lâmpadas manter recipientes para recolhimento.

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