terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O Império do Efêmero

Acredito ser muito pertinente compartilhar aqui uma breve reflexão que fiz a partir da leitura do livro: "O Império do Efêmero - A moda e seu destino na sociedade moderna", do filósofo francês Gilles Lipovetski.

Ao ler brevemente o blog, lembrei diretamente do livro do autor. Ao estudar o fênomeno da moda, o autor identifica seu início na metade do século XIV, com a criação e desenvolvimento das cidades, e o incipiente abandono das obrigações relacionadas aos costumes estéticos, tradicionais e hereditários. A moda, para o autor, jamais poderia existir sem o “prestígio e superioridade concedido aos modelos novos e, ao mesmo tempo, sem uma certa depreciação da ordem antiga”.Em seu estágio inicial, a moda vive seu período aristocrático: a alta sociedade é o cenário em que se vê a renovação das formas como um valor mundano, onde a fantasia exibe seus artifícios e exageros, onde a inconstância nas formas e ornamentações se torna regra permanente. Em seus primeiros cinco séculos, a moda é para poucos.

Contrariamente a diversos estudiosos da moda, o autor não reduz o aspecto efêmero da moda a um fenômeno advindo da necessidade de distinção social. O argumento desses estudiosos consiste na idéia de que a burguesia passava a imitar o vestuário da nobreza e essa, para não ser confundida, o mudava. O vestuário é uma forma de distinção social, mas isso não explica suas mudanças constantes. Muitas vezes a moda muda antes de chegar a atingir as baixas camadas da sociedade. Logo, a mudança é voluntária: a valorização do Novo é uma das características fundamentais na sociedade que permitiu o surgimento da moda.

A diminuição da duração do ciclo de vida dos produtos pode ser diretamente relacionada a valorização da novidade. Lembro agora de uma frase que li de autoria do poeta e jornalista Fabrício Carpinejar: as mulheres que não conseguem se desfazer do pote de shampoo não conseguem se desfazer de seu marido. Isso: as mulheres que não conseguem se desfazer do pote de shampoo não conseguem se desfazer de seu marido. O apreço ao novo é uma característica quase intrínseca à sociedade atual, e isso pode ser visto até nas relações humanas e sociais. Com a quantidade de trocas de informações, de oferta de novos produtos, de novas possibilidades, de novas idéias, as pessoas mudam constantemente, e cada vez mais, elas quererm que os produtos e marcas que vestem, que usam, e com as quais se relacionam, falem por elas, estejam ligados com suas idéias, que, novamente, mudam constantemente.

O caráter passageiro de um produto só pode ser diminuído quando uma empresa consegue manter seu consumidor sentindo-se conectado com ela, com seus valores, com o estilo de vida que ela passa. Será que a longevidade de um produto como a Coca Cola não está na idéia de que o momento de uso do produto é um momento de felicidade?

De qualquer forma, o questionamento que fica é: ainda que todos reclamem da quantidade de anúncios, de produtos, de empresas, em uma sociedade em que um dos grandes valores é a responsabilidade social e a postura sustentável, está de fato o indíviduo consciente de que o consumo exagerado é também parte de sua liberdade de valorização de suas pecualiaridades, da afirmação do seu individualismo, de suas idéias e de seus valores, que ele costuma afirmar a partir de hábitos de consumo? E mais: está ele disposto a abrir mão desses hábitos em prol de um mundo melhor?

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